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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Tão letal quanto uma arma

Tão letal quanto uma arma
Nos últimos três finais de semana, 11 pessoas morreram em acidentes na Região Central
Superar a dor de perder dois filhos de uma só vez ainda é algo muito distante para a técnica de enfermagem Maria Albertina da Silva Fraga. Até mesmo falar sobre assunto é difícil para a mãe de Thiago de Souza Fraga, 28 anos, e João Lineker da Silva Fraga, 12, mortos em um acidente de trânsito na noite quente do sábado de 15 de agosto.
– Conforme o tempo passa, a dor só aumenta. Num dia, eles estavam aqui com a gente, tinham planos como qualquer pessoa da idade deles. De repente, eles foram engolidos por um caminhão. Não sei nem o que pensar.
Estou perdida – desabafa a mãe, que pretende, no futuro, fundar um grupo de combate à violência no trânsito.Thiago e João são dois dos 11 nomes que formam uma trágica lista construída no trânsito da Região Central nos últimos três finais de semana (veja o quadro na página 15), um número considerado alto por especialistas da área.
As causas de cada um dos acidentes ainda são investigadas pela Polícia Civil, mas o chefe de policiamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Santa Maria, Claudir Nascimento, dá pistas de alguns dos fatores que podem ter contribuído para a tragédia:– Os acidentes violentos normalmente aumentam nos finais de semana, mas, com a volta do calor, as pessoas ficam mais eufóricas, seja para encontrar parentes e amigos em outra cidade ou para se deslocar até uma festa.
Investigador da equipe da Delegacia de Trânsito da Polícia Civil de Santa Maria há oito anos, o comissário Nereu Manfil acredita que desastres de trânsito poderiam ser evitados se os motoristas não fossem tão autoconfiantes.
Para ele, a maior parte das tragédias ocorre por imprudência. Nascimento, da PRF, concorda e destaca que os motoristas brasileiros são culturalmente “inconsequentes.”– As pessoas acham que os desastres acontecem com os outros, nunca com elas – afirma Nascimento, que trabalha há pelo menos 15 anos na PRF de Santa Maria.
Essa característica é ainda mais marcante nos jovens, segundo Nascimento – entre os 11 mortos na região, seis têm menos de 30 anos. A inexperiência seria outro fator que colaboraria para que jovens sejam as principais vítimas de tragédias.É cultural – Com experiência de cinco anos como instrutor de trânsito, André Prestes, 34, concorda com o policial.
Ele afirma que nem mesmo o novo código de trânsito, que endureceu as punições a infratores e obrigou candidatos à habilitação a ter mais aulas teóricas e práticas, contribuiu para que os jovens se envolvessem menos em desastres.– Não é uma questão só de legislação.
É de cultura do povo. As pessoas saem da autoescola, fazem tudo que aprenderam durante um tempo e, depois, passam a fazer o que a maioria faz. É sempre mais fácil fazer o errado do que fazer o certo – diz o instrutor.
bianca.backes@diariosm.com.br BIANCA BACKES
MAIS
No país
Conforme o Departamento Nacional de Trânsito, cerca de 35 mil pessoas morrem no Brasil todos os anos em decorrência de acidentes de trânsito
Dois irmãos – Thiago, 28 anos, e João, 12 – morreram quando a Saveiro dirigida pelo mais velho bateu em um caminhão na BR-158, em Santa Maria, no dia 15
Fonte: Diário de Santa Maria, 04/09/09

2 comentários:

Mariana disse...

O título fala por si.Por isso é preciso ficar sempre em Alerta.
Não há consolo para esta mãe.

Lisette Feijó disse...

Paz para o coração desta mãe um dia por vez...