Trânsito e civilidade
É constrangedora a imagem que os brasileiros têm do morador de Porto Alegre como motorista. Dois defeitos sempre citados, a impaciência e a falta de solidariedade, bastariam para que se refletisse sobre o comportamento dos habitantes da Capital ao volante, mesmo com a desculpa de que essas são observações de forasteiros. Sabe-se agora que nem a atenuante da imprecisão de visitantes apressados tem utilidade.
É constrangedora a imagem que os brasileiros têm do morador de Porto Alegre como motorista. Dois defeitos sempre citados, a impaciência e a falta de solidariedade, bastariam para que se refletisse sobre o comportamento dos habitantes da Capital ao volante, mesmo com a desculpa de que essas são observações de forasteiros. Sabe-se agora que nem a atenuante da imprecisão de visitantes apressados tem utilidade.
Os próprios motoristas de Porto Alegre, conforme pesquisa realizada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), têm uma imagem negativa do comportamento no trânsito.O estudo revela que, na média, o entrevistado identifica sempre nos outros os impacientes, mal-educados e infratores.
Ao mesmo tempo, o pesquisado se define como alguém que se submete ao bom senso e às leis. Repete-se na pesquisa um dado presente em outros estudos sobre trânsito e motoristas, não só no Brasil. Pessoas ao volante identificam invariavelmente nos demais os defeitos que não percebem ou se recusam a ver nas próprias condutas.
Os outros são bem mais do que inábeis ou transgressores, são competidores desleais pelo melhor espaço nas ruas.No caso de Porto Alegre, essa sensação é exacerbada por esse componente, certamente de ordem cultural, não presente de forma tão acintosa em outras metrópoles brasileiras.
Por insistência da comparação, sabe-se que São Paulo, com população oito vezes maior do que a de Porto Alegre – sem levar em conta as regiões metropolitanas –, tem um trânsito caótico, mas seus motoristas são menos agressivos e mais solidários. Não há, como possa parecer, um paradoxo entre esse cenário de desorganização e quase paralisia do tráfego e a convivência mais tolerante dos motoristas.
Especialistas sabem que cidades com trânsito primitivo não transformam, necessariamente, a impaciência em agressividade.A pesquisa da EPTC pode estimular os próximos estudos a identificar as peculiaridades do porto-alegrense quando está dirigindo.
Mesmo que não seja uma explicação para todas as deficiências e distorções, deve-se levar em conta o fato de que há décadas a Capital não adota nenhuma medida de fato inovadora nessa área.
Também é preciso levar em conta que atitudes típicas do motorista de Porto Alegre, como a agressividade, não se reproduzem na maioria das cidades do Interior, onde, ao contrário, há bons exemplos de civilidade ao volante.O trânsito é um indicador infalível de comportamentos, mas ainda se comete o engano de pensar que somente crianças e adolescentes poderão reverter aspectos negativos quando se tornarem adultos.
Exemplos como o de Brasília, onde em poucos anos uma campanha mudou hábitos de motoristas e pedestres, combinando educação e punição, soterram essa visão resignada de que não há como obter resultados no curto prazo.
Os adultos de hoje podem, sim, revisar suas atitudes, e por isso é bem-vinda a campanha que a EPTC anuncia para os próximos dias em Porto Alegre, onde 1.352 pessoas ficaram feridas e 74 destas morreram em atropelamentos no ano passado. As ruas são mais do que vias de circulação submetidas a normas e leis. São espaços de convívio social, nos quais os veículos não podem nunca se sobrepor às pessoas.
Fonte: Editorial do jornal ZH , 07/09/09
2 comentários:
Eptc revisse seu trabalho.
Vamos deixar como falata de educação!
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