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sexta-feira, 8 de maio de 2009

As pessoas dirigem como vivem, por Fabrício Dreyer de Avila Pozzebon*

As pessoas dirigem como vivem, por Fabrício Dreyer de Avila Pozzebon*

A busca de explicações para a violência no trânsito é tarefa das mais árduas, por se tratar de um fenômeno extremamente complexo, o que de forma alguma esmorece a necessidade de uma profunda reflexão a respeito.
O crescente número de lesões, mortes e prejuízos de ordem patrimonial diuturnamente noticiado é revelador disso.
O fato é que um comportamento violento na condução do automóvel reflete a personalidade de quem o conduz, cujas tendências são reforçadas pelo veículo que atua como instrumento potencializador.
Segundo o doutor em psicologia Reinier J.A. Rozestraten, o trânsito tem o caráter e a inteligência de quem o realiza, e o veículo é o espelho da pessoa que o conduz, a sua imagem e semelhança.
Quando na condução do veículo automotor, a pessoa revela seu grau de sensibilidade e a sua satisfação ou insatisfação com a vida. As pessoas dirigem como vivem.
Portanto, a afirmação recorrente de que o veículo transforma as pessoas não é de todo correta, pois, conforme o referido autor, o veículo apenas possibilita condições para que as pessoas se revelem como elas verdadeiramente são ou vivem.
Na condução de um veículo, a pessoa expressa suas virtudes, como educação, sensibilidade e altruísmo, mas mostra, também, seus defeitos, fraquezas e insensatez.
Armindo Beux destaca que, segundo os autores franceses, os condutores classificados como faibles d’esprit, em termos psicológicos, apresentam três formas principais: os irresponsáveis, que não enxergam o perigo, são possuidores de excesso de autoconfiança e pouquíssimo respeito pelas leis de trânsito; os vaidosos, que desprezam o pequeno, detestam ser ultrapassados, tomam decisões perigosas e não gostam de diminuir a velocidade; e os irritáveis, que constantemente vislumbram nos outros ignorância ou más intenções, não perdoam ninguém, são altamente agressivos, xingam por qualquer circunstância.
Quem nunca viu um desses? O motorista que imprime velocidade excessiva em seu veículo está sendo dominado, não por um sentimento de superioridade, mas por um complexo de inferioridade com relação a alguma coisa de sua vida.
Indivíduos frustrados procuram na potência da máquina; portanto, na velocidade, a compensação inconsciente de suas frustrações. Chegam, por meio do automóvel, a atribuir a si mesmos uma excessiva importância pessoal.
Essencial, assim, em primeiro lugar, além da educação do futuro condutor desde a mais tenra idade, sermos humildes em reconhecer se não estamos enquadrados em um desses perfis e o quão perigoso isso significa.
Fazer um exercício de alteridade, colocando-se na posição do outro, e que os riscos para os outros são também riscos para si mesmo e sua família.
*Diretor da Faculdade de Direito da PUCRS
Fonte: Jornal Zero Hora, 08/05/09

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