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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pesquisa revela quem são os selvagens do trânsito

Pesquisa revela quem são os 'selvagens do trânsito'
'Rua, para os motoristas, é uma espécie de campo de batalha', diz antrpólogo.'Ultimamente os motoristas estão muito ignorantes no trânsito', afirma taxista.
Raiva, estresse, desequilíbrio?
O que leva um motorista a perder a cabeça e provocar uma tragédia? Uma pesquisa revela quem é o nosso motorista.
“Eu não sei o porquê, sinceramente. Tem que ter um fundo, alguma explicação, porque não tem explicação uma barbaridade dessas, não tem”, desabafa Maria Alice Pinheiro.
Perplexidade: este é o sentimento de Maria Alice diante da agressão sofrida pelo seu filho, no Rio de Janeiro. André Luís Lima, cuja foto a família não permitiu que fosse divulgada, foi atingido na cabeça por uma barra de ferro de quase dois quilos depois de uma briga de trânsito.
O estado dele é muito grave.
O agressor, o servidor aposentado Itamar Paiva, que está preso e responde por tentativa de homicídio. “O que me sustenta é a minha fé, porque, se eu não tivesse essa fé, eu já tinha sucumbido diante de tudo que já passei”, lamenta a mãe.
Um jovem de 18 anos é assassinado depois de uma briga de trânsito, em São Paulo.
Duas mulheres com transtornos de comportamento dirigem pela contramão, numa trajetória camicase.
Em apenas dez dias, casos de violência e desequilíbrio, como estes, trouxeram à tona uma questão: por que tanto descontrole?
“Ultimamente os motoristas estão muito ignorantes no trânsito. Eles saem para o trânsito parecendo que é uma guerra”, comenta o taxista Rafael Lima. Para alguns, há falta de educação, falta de respeito, falta de civilidade.
“O brasileiro, dentro do veículo, ele se transforma”, opina Luciene Becacici, diretora-geral do Detran no Espírito Santo.
Despreparo, agressividade e desprezo às regras: estas são as principais características apontadas por uma pesquisa inédita com 300 motoristas no Espírito Santo.
“O nosso objetivo é entender o que está por trás desse comportamento, que a gente quer tanto mudar e tem tanta dificuldade”, diz Luciele.
O estudo, coordenado pelo antropólogo Roberto Damatta, mostra que a rua, para os motoristas, é uma espécie de campo de batalha, onde somente os mais fortes e espertos levam vantagem. “Se você não faz, o outro vai fazer. Essa é a lei", disse um dos entrevistados.
De acordo com Luciene, a pessoa que cumpre a lei é vista pelo outro como alguém bobo, alguém ingênuo, alguém que não merece respeito.
“Eu diria que uma das maiores causas de problemas no Brasil relacionados ao trânsito é o fato de o veículo ainda servir como elemento de ascensão”, explica o psiquiatra Júlio César Rosa.
A pessoa se sente superior quando está dentro do veículo e ele não pode ser desafiado.
“Quando você está dirigindo e é fechado, naquele momento você está se sentindo inferiorizado”, fala Júlio César. “O que ele está pensando que é? Ele é superior a mim?", complementa Luciene Becacici.
“Eles estão te degradando naquele momento e você não pode permitir isso”, volta Júlio. Outro comportamento de risco apontado pela pesquisa é a certeza do motorista de que pode controlar os efeitos do álcool. Segundo a diretora-geral do Detran no Espírito Santo, tem até quem diga até que dirige melhor depois de beber.
Essa percepção distorcida é em grande parte responsável pelas 86 mortes nas estradas brasileiras, contabilizadas no último feriado de Corpus Christi.
Em duas operações realizadas pelo Detran de Brasília na semana passada, 30 motoristas foram flagrados dirigindo bêbados.
Muitos reagiram com agressividade: uma mulher, por exemplo, se descontrola e atira os sapatos para o alto. Depois, começa a dar socos e chutes no próprio carro.
Ela chega a arrancar a placa. “Sai daqui! Eu odeio polícia! Eu odeio polícia!”, berra descontrolada. Um outro rapaz desafia o policial. Rapaz: Não vem gritar no meu ouvido, não, merda!.
Policial: Merda o quê, rapaz? Rapaz: Merda. Não vem botar mãozinha não que você apanha na cara, está bom, neném? O rapaz parte para a briga e é algemado.
A partir de agora, a punição para o álcool ao volante pode se tornar bem mais rigorosa. O Congresso aprovou uma lei - ainda não sancionada pelo presidente Lula - que transforma em homicídio doloso, ou seja, intencional, a morte provocada por um motorista bêbado.
“A pena pode ser de seis a 20 anos.
Se o cidadão se embriaga e vai dirigir um veículo, ele tem consciência de que ele pode matar alguém”, explica Cyro Vidal, presidente da Comissão de Assuntos e Estudos sobre o Direito do Trânsito da OAP de São Paulo. Hoje, o código de trânsito brasileiro pune esse tipo de crime com uma pena que geralmente é revertida para o pagamento de cestas básicas.
“A certeza da impunidade é que conduz 35 mil mortes por ano no trânsito”, alerta Cyro Vidal.
“O condutor do veículo, embora fora do carro diga que quer mais leis e maior punição, dentro do carro ele faz a própria lei”, garante Luciene Becacici.
Num trânsito cada vez mais caótico e violento, saber antecipar o erro do motorista ao lado é a melhor maneira de evitar acidentes e brigas que podem ter conseqüências imprevisíveis.
Convidamos o piloto de stock car Luciano Burti para um passeio com nossa equipe.
Ele deu três dicas simples de segurança ao volante.
“A posição de dirigir é fundamental. Se você dirigir com o banco muito distante ou baixo, na hora em que é preciso esterçar, falta curso.
Por isso é importante segurar na posição correta, que é justamente no ponto de apoio no meio do volante, para poder ter curso dos braços e poder virar os 90 graus necessários para qualquer manobra”.
E quando chove, que cuidados extras o motorista tem que tomar?
“As pessoas pecam na hora de desembaciar o pára-brisa, pois passam a mão no vidro.
O nosso corpo tem gordura e essa gordura, quando misturada com a umidade, acaba virando uma borra e você perde muito a visibilidade.
Eu recomendo que a pessoa sempre ande com um paninho limpo dentro do carro”.
Outro ponto fundamental é conseguir manter a distância do carro que vai a sua frente.
“Não adianta focar no carro que vai a sua frente.
Você tem que tentar ter uma visão bem mais ampla, olhando inclusive lá na frente o que está acontecendo, ao redor também”, alerta.
Num rápido passeio, a gente constatou que o que falta ao trânsito brasileiro é, antes de tudo, educação.
“O papel da família é fundamental. Pai e mãe têm que dar testemunho de vida cotidiano do que é certo e o que é errado no trânsito.
Nós estamos travando uma guerra urbana todos os dias”, finaliza Luciene Becacici.
Fonte:Do G1, em São Paulo, com informações do Fantástico

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