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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

‘Sou brasileiro e não sou apaixonado por carro’, diz adepto da bicicleta

‘Sou brasileiro e não sou apaixonado por carro’, diz adepto da bicicleta
Cicloativista pede que bikes tenham mesmos direitos de automóveis.Para André Pasqualini, números de ciclovias em SP não são confiáveis.
Diego Assis Do G1, em São Paulo
André Pasqualini pedalando de máscara pela Av. Paulista (Foto: Arquivo pessoal)
André Pasqualini tem 35 anos, é brasileiro e confessa: “não sou apaixonado por carro”. Adepto da bicicleta como seu principal meio de transporte na cidade de São Paulo desde 2006, o analista de sistemas tem um automóvel na garagem, mas só o utiliza em último caso.
“Ontem [terça-feira, 18] fui de carro da Lapa até o Ibirapuera, e levei uma hora e meia para fazer um percurso que faria em meia hora no máximo se fosse pedalando”, justifica. Pasqualini teve de recorrer às quatro rodas porque das quatro bicicletas que tinha na garagem três estavam quebradas e uma, compacta e dobrável, não era a ideal para o trajeto que faria, de cerca de 12 km.
Nesta semana, o G1 testa os caminhos da cidade, usando diferentes meios de transporte. Nesta quinta-feira (20) o repórter vai pedalar pelas ruas da cidade e também usar o sistema de fretados. Leia todas as reportagens na página especial: São Paulo, cidade lenta .
Militante do movimento dos cicloativistas, Pasqualini reconhece que a bicicleta pode não ser a única solução para o problema do trânsito e dos transportes em São Paulo, mas luta pelo respeito aos ciclistas e contra o que classifica como um favorecimento desproporcional ao uso do automóvel na cidade.
“Não gosto do carro do mesmo jeito que não gosto de chuchu cozido.
Mas se a lei garante o direito dos carros a circular, e os órgãos do governo se empenham tanto para isso, deveriam ter o mesmo empenho para que as pessoas tivessem o direito de pedalar”, reclama. “Fazem tudo para melhorar a vida do motorista em detrimento das condições do ciclista, dos pedestres e do transporte público.”
Dados fornecidos pela Secretaria de Transportes informam que a cidade de São Paulo tem cerca de 35 km de ciclovias – 14,8 km em regiões da periferia e outros 19 km divididos em parques do município (Ibirapuera, Anhanguera e Carmo).
Recentemente, a Prefeitura anunciou que irá lançar, ainda em 2009, outros 45 km de pistas exclusivas para bicicletas, de uma meta de 100 km prometidos até o final do mandato do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Pasqualini contesta os números. “São Paulo tem só 6 km de ciclovia na Radial Leste e 1 km em Parelheiros. Ciclovias em parques não se deve considerar. É como se contássemos as ciclovias de condomínios fechados.
Alguns têm mais ciclovias que a cidade de São Paulo inteira”, critica. “O Plano Diretor previa que seriam construídos 360 km de ciclovias na cidade, sendo que 270 km eram para ser entregues em 2006. E não foram. Já as obras para carro que estavam no plano foram feitas.”
O cicloativista, membro da popular lista de discussões na internet Bicicletada e um dos idealizadores do Instituto Ciclo BR de Fomento à Mobilidade Sustentável, lembra ainda que uma lei municipal aprovada em 1995 estabelecia que todas as novas obras viárias que fossem realizadas na capital paulista seriam obrigadas a reservar uma faixa exclusiva para ciclistas. Mas a lei não vem sendo respeitada e, segundo Pasqualini, o Ministério Público já acionou as autoridades para se explicarem.
‘Tiro no pé’
Da forma como estão sendo concebidas, no entanto, as ciclovias podem ser um “tiro no pé” para as pessoas que usam a bicicleta para se transportar em São Paulo, afirma o ativista. Ele defende que, antes de se implantar as faixas exclusivas pela cidade, é necessário um planejamento cicloviário das rotas mais utilizadas pelos ciclistas.
“O que não queremos para São Paulo é que se cometa o mesmo erro que fizeram com o sistema viário e que gerou esse trânsito todo.
Faz um puxadinho aqui, aí faz uma avenida para lá, quando piora faz outra. Vamos planejar primeiro, e depois construir”, sugere.
“Não adianta construir ciclovias que ligam o nada a lugar nenhum. Tem de ser agradável, analisar as áreas de várzeas, que são mais propícias para as pessoas pedalarem. Ninguém vai andar em uma ciclovia que é um gueto”, completa.
Um estudo realizado na Holanda, referência mundial quando o assunto é transporte por bicicletas, sugere que as ciclovias – faixas segregadas para trânsito de ciclistas – são necessárias apenas para locais onde a velocidade dos carros é superior a 60 km/h.
Abaixo disso, de 40 km/h a 50 km/h, o mais indicado são ciclofaixas (não-segregadas), enquanto que para vias onde os veículos circulam a velocidades em torno de 30 km/h basta que contenham sinalização sobre trânsito de ciclistas.
Mais interessante ainda, defende Pasqualini, é que o próprio ciclista se eduque para buscar as rotas alternativas pela cidade. “Muitas vezes, quem é inexperiente acaba fazendo de bicicleta o caminho que faria de carro.
Uma via em que o carro não consegue andar a 60 km/h, com muitas cruzamentos e pontos de parada, pode não ser interessante para o motorista, mas para o ciclista é. Ele pode andar com a mesma velocidade em ambas”, diz.
‘Traffic calming’
Em vez de segregar totalmente as bicicletas do trânsito, Pasqualini aposta ainda no que os cicloativistas chamam de “traffic calming”, em outras palavras, a redução da tensão e da velocidade dos carros e ônibus nas pistas, de modo que as vias se tornem seguras também para os usuários de bicicletas.
“O motorista, às vezes, quando vê alguém de bicicleta na rua, acha que o ciclista não deve estar ali e não tira o pé. Ele se sente no direito de agredi-lo. É o mesmo que fazem com os motoqueiros ou mesmo com outros carros que tentam fazer a conversão na sua frente: jogam o carro para cima para não deixar o outro passar”, comenta.
“É essa cultura da agressividade que tira vidas.”
Pasqualini reconhece, entretanto, que o comportamento dos motoristas de São Paulo com relação às bicicletas vem mudando. “Nós fizemos em junho uma palestra com a SP Trans mostrando o lado do ciclista para o motorista de ônibus, dando dicas de como ultrapassar e como conviver com as bicicletas. De lá para cá, não recebi mais fechadas”, garante.
O cicloativista afirma também que, de 2006 para cá, tem notado uma melhora na atitude dos motoristas de automóveis na cidade, “principalmente na região do centro expandido”.
Em partes porque o número de ciclistas nas ruas só aumentou; e, em partes também porque, graças aos congestionamentos, a velocidade média dos carros na região caiu significativamente. Sorte das “magrelas”, que podem passar entre eles tranquilamente, e chegar a seu destino final sem stress nem lentidão.
Fonte: O Portal de Notícias da Globo 20/08/09 - 08h00 - Atualizado em 20/08/09 - 14h47





2 comentários:

Ricardo Conceição disse...

O plano diretor pode até prever mas moco essa gente não pedala não dá valor, principalmente para e vida do ciclista.

Lu Citadin disse...

Importante repensar as ciclovias e garantir a segurança dos ciclistas.É uma qustão de respeito.