23 de dezembro de 2008, Jornal Zero Hora
TRÂNSITO
O cinto que não pegou
Passageiros que dispensam o cinto de segurança, no banco traseiro dos automóveis, candidatam-se a projéteis humanos prontos para serem arremessados. Dados da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) mostram que, enquanto 80% das pessoas usam cinto nos assentos da frente, apenas 7% recorrem ao equipamento na parte de trás do veículo.– A falta de consciência é enorme, praticamente inexistente – avisa o gaúcho Osvandré Lech, presidente eleito da Sbot.
O acidente de domingo na freeway, próximo a Glorinha, que provocou a morte do casal Elio e Lourdes Cassanego, é uma evidência do argumento de Lech. Sem o cinto, quem senta atrás pode se tornar um aríete em caso de acidente.
O presidente eleito da Sbot compara que, numa colisão frontal, contra uma árvore ou poste, a velocidade de expulsão é de 20 vezes o peso do passageiro. Se a batida for num automóvel que venha em sentido contrário, a velocidade de propulsão aumenta para 50 vezes o peso do corpo da vítima. Lech lamenta que determinadas crenças inibam a busca por segurança. Há pessoas que imaginam ficar trancadas se estiverem amarradas ao cinto, caso o carro pegue fogo ou caia na água.– Isso é anedótico – diz o médico, lembrando que o incêndio ou a submersão ocorrem em apenas 1% dos acidentes.
O projétil humano que senta atrás também é o inimigo dos passageiros da frente. Traumatologista e especialista em Medicina do Tráfego, Nelson Antônio Tombini alerta que podem ser atingidas as cabeças do motorista e do caroneiro.– E se o motorista e o caroneiro (da frente) estiverem com o cinto, eles não estarão a salvo – lamenta o médico.Há 30 anos no ramo, Tombini espanta-se com a quantidade e a gravidade dos acidentados.
Os que viajam no assento traseiro, sem o cinto, podem sofrer traumatismo craniencefálico, com fraturas e acidente vascular cerebral hemorrágico. Além de danos na coluna cervical, com risco de ficar paralítico. Coordenador médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na Capital, Luciano Eifler comprovou a teoria do projétil humano nas centenas de atendimentos que realizou. Já encontrou vítimas lançadas a 15, 20 metros de distância do carro acidentado.– Sem o cinto, a mortalidade e a morbidade são bem maiores – diz Eifler.As advertências de médicos e socorristas são avalizadas por policiais.
Na manhã de ontem, o chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, abordou motorista e passageiros que iam pela freeway numa camionete, sem o cinto de segurança. Ao serem parados, alegaram que o equipamento estava sujo, mancharia suas camisas. Foram notificados na hora.– Usar o cinto, e no banco de trás, é uma das coisas pelas quais eu mais me bato – ressalta Castro, dizendo que a PRF não tolera a transgressão.Vidros escurecidos dificultam fiscalizaçãoO Comando Rodoviário da Brigada Militar também é rigoroso.
Chefe do Estado-Maior do órgão, o major Jefferson Jacques avisa que usar o cinto traseiro é uma imposição da lei. A orientação é para orientar e multar, sem contemplação.– As pessoas, infelizmente, não têm esse hábito, não entendem que pode salvar vidas – lamenta o major Jacques.Em Porto Alegre, a ordem é multar. Coordenador da Assessoria de Educação para o Trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), José Nilson Padilha diz que as próprias pessoas deveriam se conscientizar da importância do cinto em todo o carro. Observa que a fiscalização só não é mais intensa porque aumentou o número de veículos com vidros escurecidos por películas de proteção solar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário