Translate

segunda-feira, 2 de março de 2009

Paz no trânsito

01 de março de 2008, Jornal Zero Hora

Matéria: União de idéias para educação ao volante
Confrontados com estatísticas que seriam mais apropriadas a guerras de extermínio - 60 mortos por dia nas estradas do Brasil - , especialistas que participaram do segundo Painel RBS, na manhã de ontem, apresentaram soluções para conter a carnificina.
Uma das principais recomendações é de que os motoristas devem ser educados desde a infância. Sem conscientização ao volante, é provável que os gaúchos continuem sendo enlutados pela média de quatro mortes diárias.
Evento multimídia, o Painel RBS surgiu para debater temas de interesse da população. Na primeira edição, em 28 de janeiro, os ministros Tarso Genro (Justiça) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o senador Pedro Simon (PMDB) discutiram uma agenda de futuro para o Estado.
Ontem, seis especialistas, de diversas áreas, chegaram ao consenso de que a educação é a melhor saída para pacificar as estradas. O encontro ocorreu na sede da RBS, com a presença do diretor-presidente do Grupo, Nelson Sirotsky, e os diretores corporativos da empresa.
Os painelistas admitiram que as rodovias brasileiras são perigosas, mas coincidiram que a maior causa dos desastres é a imprudência dos motoristas.
O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Hélio Cardoso Derenne, observou que "não adianta colocar 40 mil policiais nas ruas" se a população dirigir com a disposição de transgredir. Derenne confessou que sente uma "náusea existencial" quando lê as resenhas do dia sobre o trânsito:
- As mortes nunca baixam de dois dígitos.

Vice-governador se desculpou pela precariedade das rodovias
Quando governou o Distrito Federal, o agora senador Cristovam Buarque (PDT) conseguiu reduzir as mortes em Brasília de 76 para 22 por mês, endurecendo na repressão, espalhando pardais e pondo ordem na sinalização do tráfego. Mas notou que o fator decisivo é a educação.
O senador equiparou que o motorista de carro deveria ser cuidadoso "como um piloto de avião".
Com a experiência de quem tenta salvar pessoas estraçalhadas em colisões, o médico traumatologista Nelson Antonio Tombini alertou que a formação do motorista também envolve os acidentes. Aconselhou que não se deve auxiliar um ferido grave tocando-lhe o corpo.
Ao retirar o caco de vidro de uma vítima, por exemplo, o ajudante pode destampar o furo de uma veia, provocando hemorragia.
Uma receita que vem obtendo êxito foi narrada pela presidente da Fundação Thiago Gonzaga, Diza Gonzaga. Mãe que transformou o luto pela morte do filho em defesa da vida, Diza ressaltou que a entidade já dispõe de 10 mil voluntários na Grande Porto Alegre.
Eles têm a missão de abordar jovens que estão em festas ou bares, pedindo para que não dirijam depois de beber.
- Falamos a linguagem deles, a verdadeira, não falamos com moralismos - enfatizou Diza.
Participando por meio de uma videoconferência desde Brasília, o diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Alfredo Peres da Silva, disse que as leis deveriam ser mais rigorosas para cumprir sua função educativa. Considerou inadmissível que condutores dirijam embriagados. Sustentou que deveriam responder por crime doloso - quando se assume intenção de matar.
A educação não é dever apenas de motoristas. Em um momento de emoção durante o Painel da RBS, o vice-governador do Estado, Paulo Afonso Feijó, lembrou a morte recente da filha num acidente de trânsito. Disse que Alessandra não estava alcoolizada nem drogada, houve uma fatalidade. Mas ponderou se era seguro colocar um poste de concreto - onde a filha se desastrou - justamente às margens de uma via expressa.
- Como pai, estou inconsolável. Como homem público, peço desculpas a todos os motoristas que andam em vias públicas. Lamentavelmente, o serviço público, no que diz respeito à segurança da via pública, é ineficaz - declarou Feijó.
Consultor e professor em engenharia de trânsito, Mauri Panitz lamentou a falta de educação entre autoridades. Disse que a propaganda de novos automóveis teima em fazer a apologia à velocidade, associando desempenho dos motores ao sucesso pessoal. Panitz também criticou a incoerência do governo, que tenta proibir a venda de bebidas de álcool à beira das estradas, mas concede incentivos fiscais às indústrias.


Nenhum comentário: