Texto escrito por Germano Rigotto
Isto virou uma trágica rotina na vida das famílias brasileiras: não passa um mês, senão quinze dias ou uma semana, sem um episódio de acidente de trânsito envolvendo pessoas das nossas relações. E, não raras vezes, com vítimas fatais.
Essa guerra se acostumou ao nosso cotidiano – isso vale para governos, organizações e até mesmo para os indivíduos. De tão forte que é o problema, há uma espécie de rendição a ele, um conformismo velado, uma desistência. Não podemos permitir que isso aconteça.
Essa guerra se acostumou ao nosso cotidiano – isso vale para governos, organizações e até mesmo para os indivíduos. De tão forte que é o problema, há uma espécie de rendição a ele, um conformismo velado, uma desistência. Não podemos permitir que isso aconteça.
Segundo levantamento do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), concluído em 2013, mais de 980 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito no Brasil entre os anos de 1980 e 2011.
E foi justamente no último período que o país alcançou a maior taxa proporcional desde que os dados começaram a ser contabilizados: foram 22,5 mortes por 100 mil habitantes. O pico havia sido alcançado em 1996, antes da criação do Código Brasileiro de Trânsito, que logo depois começou a vigorar e a contribuir para quedas importantes nos indicadores.
E foi justamente no último período que o país alcançou a maior taxa proporcional desde que os dados começaram a ser contabilizados: foram 22,5 mortes por 100 mil habitantes. O pico havia sido alcançado em 1996, antes da criação do Código Brasileiro de Trânsito, que logo depois começou a vigorar e a contribuir para quedas importantes nos indicadores.
Mas uma amostragem feita pelo Observatório Nacional de Segurança Viária revelou que o número de vítimas no trânsito é muito superior ao que fazem crer as estatísticas oficiais.
A pesquisa teve como base o DPVAT. Em 2012, por exemplo, foram registrados mais de 60 mil mortos, um aumento de 4% em relação a 2011, com 352 mil casos de invalidez permanente. Seja pelos dados oficiais ou pelos extraoficiais, o fato é que estamos muito longe de uma situação aceitável.
Trata-se da maior tragédia brasileira, com mais vítimas do que o câncer e os homicídios. As causas são conhecidas e complementares entre si: precariedade das estradas, falhas na sinalização, infraestrutura deficiente, carros com padrões de segurança superados, pouca fiscalização, carência de alternativas ao transporte rodoviário, falta de formação, dentre outras.
Mas tem uma causa que está presente em 95% dos desastres viários: a combinação entre irresponsabilidade e imperícia. É uma inclinação, que pode ter diversas explicações de ordem cultural, para burlar as leis e exceder-se no volante.
A constatação é simples: basta pegar o carro na estrada, andar poucos quilômetros, e logo veremos um festival de ultrapassagens perigosas. Motoristas bêbados, mesmo com a lei seca, continuam fazendo verdadeiras loucuras.
Alguns caminhoneiros e outros motoristas profissionais, muitas vezes por pressão das empresas, dirigem com um grau de cansaço perigoso. Mas não precisamos ir tão longe: observemos nossa própria prática cotidiana.
Alguns caminhoneiros e outros motoristas profissionais, muitas vezes por pressão das empresas, dirigem com um grau de cansaço perigoso. Mas não precisamos ir tão longe: observemos nossa própria prática cotidiana.
O uso de celular ao dirigir tem causado uma quantidade enorme de colisões. Enfim, há um sem-número de comportamentos que dependem exclusivamente das escolhas que são feitas por nós mesmos quando vamos dirigir.
Somos parte desta cultura de imprudência e, inevitavelmente, influenciados por ela. Mas, se já evoluímos em nossos índices sociais e econômicos, não podemos continuar aceitando a derrota nesta guerra diária – que causa morte, dor, destrói famílias e gera prejuízos enormes para o país. Temos onde buscar inspiração.
Na Alemanha, os óbitos por acidentes de trânsito caíram mais de 80% nos últimos quarenta anos. Lá, a propósito, perseguem a meta de fechar um ano inteiro sem nenhuma vítima fatal. A Austrália alcançou 40% de queda em duas décadas. A China, em apenas dez anos, conseguiu reduzir a taxa em 43%. Ou seja: não estamos diante do impossível, não podemos aceitar a condição de derrotados.
O feriado do carnaval vem aí, e as estradas estarão lotadas. Muitas vidas em risco. Se ainda não temos o Brasil que queremos no que se refere à segurança dos carros e das estradas, que a responsabilidade individual possa ser o nosso escudo. Já não se pode mais acreditar que nunca vai acontecer conosco. É preciso ter noção do perigo. E que essa nova consciência não atrapalhe a festa e os momentos de convivência, mas que inspire a todos a dirigir com mais segurança. Bom feriado, bom carnaval, boa viagem!