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sábado, 18 de outubro de 2008

A dor transformada em ação
















Zero Hora, 19 de outubro de 2008

TRÂNSITO

A dor que foi transformada em ação

Mulher do vice-governador cria ONG que questionará segurança das vias

Numa curva da Terceira Perimetral, um poste mal localizado ceifou projetos de vida e a alegria da juventude. A falha aumentou ainda mais a dor pela perda da filha. Mas serviu também de motivação à mãe, que transformou o luto em determinação para evitar que mais famílias sejam tragicamente desfeitas.Um erro na concepção do projeto da avenida, posteriormente apontado por especialistas em trânsito, agravou o acidente que determinou a morte de Alessandra Feijó, 18 anos, filha do vice-governador Paulo Afonso Feijó, ocorrida em fevereiro passado. A lembrança do sorriso da jovem que almejava correr o mundo serviu de motivação à mãe Lisette Feijó, 47 anos, para criar a Alerta, uma nova ONG voltada para diminuir a violência no trânsito.A Alerta, nome que surgiu da combinação de “Ale” – como a menina era chamada por amigos e familiares – e a própria conotação da palavra, será lançada durante o 40º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia, que ocorre entre os dias 13 e 15 de novembro na Capital.– O evento lançará, também, uma campanha de prevenção a acidentes de trânsito. Como fomos convidados a participar, resolvemos também apresentar a Alerta neste evento – explica Lisette.ONG quer alertar para vias mal projetadasChamar a atenção para o perigo de vias mal projetadas, que se transformam em armadilhas para os motoristas, será a principal bandeira da ONG.– A perícia nos mostrou que naquela curva (onde Alessandra bateu) não deveria existir um poste na beira da calçada, sem recuo nem proteção. Como uma Perimetral projetada pode ter um erro desses? Quando forem construir outras vias, isso não pode acontecer – ressalta.O símbolo da Alerta será uma placa de trânsito em formato triangular, que representará as três principais bases de ações: o veículo, a via pública e o motorista.– Esses fatores andam juntos. Não adianta focar só no motorista. As pessoas têm de conhecer o veículo, e as ruas precisam ser seguras – enfatiza.Com auxílio de engenheiros, peritos em trânsito e voluntários, Lisette tentará cumprir sua nova missão e fazer com que a morte de sua filha não tenha sido em vão:– Estou fazendo isso por ela. É uma maneira de preservar a imagem dela, de tê-la comigo.

Como funcionará a Alerta:

VIAS
O engenheiro Walter Kauffmann Neto, perito que trabalhou no caso de Alessandra Feijó, será um dos principais consultores da ONG (logotipo ao lado). Segundo ele, o trabalho será feito sob três bases – vias, veículos e motoristas.
Focará nas armadilhas que as ruas das cidades escondem, como a má localização de postes e árvores – normalmente sem proteção e fixadas junto ao meio-fio – e defensas metálicas (guard-rails) mal projetadas.
Como funcionará: a ONG pretende chamar a atenção de prefeitura, órgãos públicos e construtoras para projetar vias mais seguras. A intenção é solicitar alterações em vias atuais e em estruturas que serão construídas.
Exemplo: o Peugeot 307 que Alessandra dirigia bateu num poste numa curva na Terceira Perimetral (foto). Não havia guard-rail, e o poste estava muito próximo ao meio-fio.

VEÍCULOS
A maioria dos motoristas não investe em itens de segurança e não conhece tecnologias que podem diminuir impactos de acidentes.
Como funcionará: a ONG trabalhará junto a concessionárias, para que vendedores e técnicos possam auxiliar os clientes a investir em segurança e ensinar a usar os equipamentos.
Exemplo: O carro de Alessandra tinha freios ABS (sistema que evita que a roda bloqueie e derrape) mas ela não sabia como usá-lo – se o pedal trepidar, é porque está funcionando. A jovem perdeu o controle da direção e a batida atingiu a porta do motorista.

MOTORISTAS
A ONG chamará a atenção, principalmente de novos motoristas, com pouco tempo de carteira, sem experiência suficiente.
Como funcionará: por meio de palestras e ações de mídia, a ONG reforçará a importância dos motoristas respeitarem o seu limite e dirigir com mais consciência.
Exemplo: Alessandra tinha feito a carteira de motorista há poucos meses. Ela estava em velocidade incompatível com o trecho, mas poderia ter melhores condições de se salvar, se tivesse mais experiência ao volante.

RISCO
Na Capital, os choques contra obstáculos parados é o terceiro tipo de acidente mais comum. Veja os índices:
1° Abalroamento 48,5%
2° Colisão 32,5%
3° Choque 9,4%
Fonte: EPTC (junho de 2008)

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